quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Primeiro ato.

Eu vinha pela rua, caminhando sem pressa. Tudo que eu queria era chegar em casa.

- Tem horas? Uma senhora perguntou com cara de quem iria começar uma conversa.

Minha vontade maior era sumir. Correr até minha cama e esconder-me sob os lençóis. Eu não costumo ter rompantes depressivos, nem ao menos ser mal educado, respondi a ela sem pensar “quatro e quinze”, fazia pouco que eu tinha olhado o relógio, então tentei chutar aproximado.

Quase dobrando a esquina, uma quadra antes de chegar em casa, me pareceu que se comprasse um estoque de chocolates para o meu esconderijo sob as cobertas, eu talvez me sentisse melhor.
Entrei no mercadinho um tanto apressado, parecia que toda minha moleza para andar até em casa havia desaparecido. Peguei três barras de chocolate ao leite, uma nota de dez reais, passei no caixa, não olhei a atendente nos olhos, e saí. Ela tentou gritar um “boa tarde”, mas nem respondi. Caminhei mais rápido que antes, na esperança de ver o portão marinho logo, ele seria minha redenção e meu quarto uma bênção.

Meu chaveiro, um emaranhado de chaves e penduricalhos, parecia que não tinha intimidade alguma com ele, demorei anos para abrir o portão. Atravessei o caminho de pedras que cortam o jardim. Passei pela entrada como um vulto, sem que pudesse ser visto, entrei no quarto, bati a porta, joguei-me na cama.

Comecei a rir sozinho, com duas lágrimas solitárias nos olhos. O celular tocou.
- Diogo? A voz do outro lado parecia incerta.
- Oi. Eu respondi, a boca secou instantaneamente, e o coração bateu mais forte.
- É o Tom, já to com saudade de ti.
- Hehe – eu ri desconcertado – ainda consigo sentir o cheiro da tua boca.

Um comentário:

Cris, o Clarim. disse...

Cheiro de boca?? Hummmm imagino que não estejas te referindo a mau hálito auhshashuauhs
Fiquei curioso.. Quero mais!!
Ah, muito prazer =)