quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Será que eu sei? (parte 1)

Comecei a rir sozinho, com duas lágrimas solitárias nos olhos. O celular tocou.


- Diogo? A voz do outro lado parecia incerta.
- Oi. Eu respondi, a boca secou instantaneamente, e o coração bateu mais forte.
- É o Tom, já to com saudade de ti.
- Hehe – eu ri desconsertado – ainda consigo sentir o cheiro da tua boca.

- Isso é bom ou ruim?

- Se tratando de ti é muito bom.

- Humm interessante.


Eu não parecia ter muita coisa para dizer. Algumas coisas ainda estavam fora do lugar na minha cabeça e com certeza essa ligação tão rápida não parecia ajudar.

Eu não sabia muito o que dizer e talvez preferisse somente ouvir.


- Um amigo me convidou para dar uma volta hoje, o que você acha? Ele perguntou seriamente.

- Bem, você pode fazer o que quiser... - definitivamente eu não sabia que resposta ele esperava.

- Você não vem comigo?


Respirei fundo, olhei a estante com gavetas bagunçadas, respirei fundo mais uma vez... o dia havia sido delicioso, mas eu não podia continuar. Me olhei no espelho da cômoda, respirei fundo mais uma vez.


- Acho que é melhor não, já passei o dia todo fora de casa, e hoje é quinta-feira, amanhã eu tenho aula.

- Tudo bem, eu achei que seria legal, talvez eu não vá também.

- Não se prenda por mim - como eu poderia explicar, tenho apenas 16 anos, estou confuso, cheio de coisas na cabeça e precisando de muito oxigênio, e ele não parecia querer me deixar respirar.

- Pensei que você tivesse dito que não tinha esquecido o cheiro da minha boca.


Fiquei desconsertado novamente, ele jamais entenderia o que eu estava dizendo, e talvez não parasse de insistir.


- Eu preciso desligar, minha mãe vem vindo - menti descaradamente, à essa hora ela estava trabalhando, e não tinha motivos para chegar mais cedo.

- Tudo bem, te ligo outra hora então? - Ele me pareceu se distanciar.

- .

- Beijos.

- Outros pra você.

- Em baixo da escada?

- hehehe, tenho que desligar.


Parecia que em um instante minha memória estava viva, e como se a tarde e as coisas que me atormentavam viraram doces na minha cabeça. Eu havia conhecido o Tom há três dias, era a primeira vez que nos víamos. Tirei a colcha verde que cobria a cama, os sapatos, e me atirei sobre a cama. Liguei o som, uma música melada, não tão melada, melada e sexy, beyonce se não me engano. Abri o primeiro chocolate, e a cada mordida eu me deliciava com o gosto e com a memória da aventura que eu tinha acabado de fazer.


Três dias antes eu estava navegando no computador, mexendo no orkut e teclando no msn. A mesma rotina de sempre. Minha mãe disse que se eu perdesse o mesmo tempo que perco com a Internet estudando, eu não precisaria ir à escola - até que seria uma boa... - eram 11 horas da noite quando um pedido de autorização do msn apareceu na minha tela, Tom, eu não conhecia. Autorizei, mas ficou ali, calado, sem nem ao menos uma explicação. Já chegava perto da meia noite quando decidi desligar o computador e ir dormir, plena segunda-feira, foi aí que ele resolveu se pronunciar. "Boa noite", eu respondi da mesma forma.


Ainda estou tentando me recuperar do baque que foi a segunda frase.

Primeiro ato.

Eu vinha pela rua, caminhando sem pressa. Tudo que eu queria era chegar em casa.

- Tem horas? Uma senhora perguntou com cara de quem iria começar uma conversa.

Minha vontade maior era sumir. Correr até minha cama e esconder-me sob os lençóis. Eu não costumo ter rompantes depressivos, nem ao menos ser mal educado, respondi a ela sem pensar “quatro e quinze”, fazia pouco que eu tinha olhado o relógio, então tentei chutar aproximado.

Quase dobrando a esquina, uma quadra antes de chegar em casa, me pareceu que se comprasse um estoque de chocolates para o meu esconderijo sob as cobertas, eu talvez me sentisse melhor.
Entrei no mercadinho um tanto apressado, parecia que toda minha moleza para andar até em casa havia desaparecido. Peguei três barras de chocolate ao leite, uma nota de dez reais, passei no caixa, não olhei a atendente nos olhos, e saí. Ela tentou gritar um “boa tarde”, mas nem respondi. Caminhei mais rápido que antes, na esperança de ver o portão marinho logo, ele seria minha redenção e meu quarto uma bênção.

Meu chaveiro, um emaranhado de chaves e penduricalhos, parecia que não tinha intimidade alguma com ele, demorei anos para abrir o portão. Atravessei o caminho de pedras que cortam o jardim. Passei pela entrada como um vulto, sem que pudesse ser visto, entrei no quarto, bati a porta, joguei-me na cama.

Comecei a rir sozinho, com duas lágrimas solitárias nos olhos. O celular tocou.
- Diogo? A voz do outro lado parecia incerta.
- Oi. Eu respondi, a boca secou instantaneamente, e o coração bateu mais forte.
- É o Tom, já to com saudade de ti.
- Hehe – eu ri desconcertado – ainda consigo sentir o cheiro da tua boca.